Os momentos que sinalizam uma mudança de cenário são tipicamente mais difusos, com indicadores apontando para diferentes interpretações. Isso se aplica tanto para quando se desenha o fim de um período de crescimento quanto para o encerramento de uma recessão. Na literatura da área denominamos isso de “turning points”. Os últimos dois meses de indicadores econômicos no Brasil é uma mostra de que estamos diante dessa transição.
De um lado há números ainda ruins relacionados, por exemplo, ao comportamento do mercado de trabalho. A taxa de desemprego está em 13% e, se considerarmos aqueles que também estariam em condições aquém do ideal – conceito de subutilização – chegamos a uma taxa de quase 24%. Isso dá cerca de 30 milhões de pessoas dentre desempregados e/ou que estão trabalhando menos do que gostariam. A produção industrial mostra estabilidade e quando abrimos o indicador há segmentos que estão em expansão, como é o caso daqueles relacionados ao metal-mecânico, ao passo que outros, como a indústria de alimentos, petroquímico e móveis, ainda estão no terreno negativo. O mesmo podemos constatar com as vendas do comércio. No indicador agregado é possível notar uma recuperação, mas essa é bem distinta, com resultados melhores para vestuário, eletrodomésticos e materiais de construção, mas ainda baixa para supermercados, móveis, combustíveis e lubrificantes.
Do lado positivo podemos ver o forte recuo da inflação que ajuda a derrubar os juros e baratear o crédito e custos dos financiamentos ao investimento, uma safra agrícola que deve ter um desempenho cerca de 30% maior que 2016 e um recorde de superávit na balança comercial. Para consolidar essa percepção, a última divulgação dos números do Banco Central, indicam uma estabilidade do PIB para o segundo trimestre, talvez até com uma pequena variação negativa. Já podemos dizer que o fim do ciclo recessivo se desenhou nesses últimos três meses e só não é mais perceptivo para a população porque não é da característica desse momento um resultado disseminado. Ainda estamos diante de muitas notícias ruins relacionadas ao campo político e as incertezas eleitorais para 2018 inibem uma melhora mais generalizada para os indicadores de sentimento e confiança, atrasando decisões de investimento e consumo. Além disso, para que a recuperação seja “palpável” para o cidadão é importante que os indicadores do mercado de trabalho sinalizem melhora.
Até então podíamos dizer que a legislação trabalhista no Brasil emperrava essa evolução e esse será o momento ideal para testar o quanto que as recentes mudanças podem ser consideradas importantes para o destravamento do crescimento econômico e social no Brasil. Porém, não se visualiza no horizonte um crescimento sustentável, mesmo porque o que sobrou das políticas econômicas equivocadas do passado foi uma dívida elevada e crescente, aliada a um modelo de setor público inchado e deficitário e que não consegue atender a sociedade. Tudo isso irá demandar muito esforço de reformas em todas as áreas. Mas esse é um outro capítulo, que deve entrar na pauta das discussões do País que queremos para as próximas décadas.
Igor Alexandre Clemente de Morais – Economista
Assessor Econômico do Sinborsul